terça-feira, 25 de março de 2008

Tempo

O Tempo perguntou ao Tempo
quanto Tempo o Tempo tem.

O Tempo respondeu ao Tempo
que o Tempo tem tanto Tempo

quanto Tempo o Tempo tem.


A marcha inexorável dos dias...
O passar interminável das horas...
Nada no Tempo é preciso, nada no Tempo é exacto.

As horas passam lentas, prolongando os dias e aumentando as saudades... ou então correm rápidas, fugindo-nos por entre os dedos os momentos em que somos mais felizes.
Os dias são inimigos. Arrastam-se, um atrás do outro, demorando esperas intermináveis. Transformam-se em minutos quando são desejados.

O Tempo não tem Tempo.
Tem esperas e tem fugas, tem demoras e corridas.

Em alguns momentos (mágicos e únicos), é capaz de parar e conter todo o firmamento num segundo, transmitindo num olhar um longo poema, escrito com o som do bater uníssono de dois corações. Mas logo a seguir corre e recupera. E quando damos por nós... não é mais que uma lembrança.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Como ferro no meio da fogueira

O fogo.
O fogo é mágico. Hipnotiza-nos uma noite inteira, dançando no seu trono de madeira enquanto espalha a sua luz bruxuleante pelas paredes. E até o calor que deixa no ambiente nos leva para outros mundos...

Alguma vez repararam no poder que tem o fogo?

Mesmo o ferro duro e frio sucumbe perante a violência e a intensidade das chamas arrebatadoras que o envolvem. A pouco e pouco derrete, impotente, e dois cubos fundem-se num só sob o calor abrasador da chama que os envolve. Como a Fénix, renasce das cinzas. O inanimado torna-se vivo, o sólido torna-se etéreo, e o que era estático dança voluptuosamente, uno com a labareda mágica e forte que continua a sua dança caprichosa, indiferente ao passar do tempo...
... e das vontades.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Viagem


Embarquei numa viagem rumo ao desconhecido. Dentro da cesta de um balão, deixei que este me levasse através da noite e do tempo, subindo, subindo, rumo sabe-se lá onde... Como num casulo, enrosquei-me no conforto das mantas, escondi o nariz do frio que se fazia sentir e fechei os olhos. À minha volta, as nuvens serpenteavam em movimentos mágicos e etéreos, e até as estrelas pareciam brilhar só para mim. Dentro do meu refúgio estava protegida e fui conduzida docemente através do firmamento. Bastava-me estender a mão para tocar o inatingível...

Só o Tempo me trouxe de volta. Antes que desse por mim já a noite havia desaparecido e com ela o meu abrigo, onde deixei ficar o coração. Ingrato, cruel e tormentoso, assim é o Tempo. Imparável no seu caminho, espero o dia em que se compadeça de mim e não mais me arranque dos doces momentos que tão generosamente me concede, mas também dos quais tão cruelmente me aparta...