terça-feira, 29 de abril de 2008

Alma devolvida

Noites de tempestade.
Sem que eu desse conta, a minha alma foi levada de mim. O meu peito, vazio, ondulava profundamente na ânsia de que o que partiu voltasse e a dor desaparecesse... Outra vez o Tempo, meu inimigo, se arrastou em longas demoras, prolongando-se em sucessões de dias dolorosos e intermináveis.


Finalmente chegou a noite e com ela a calma para tamanho desassossego.
A claridade do luar invadiu os meus sentidos, devolvendo-me a alma que havia perdido juntamente com o sentimento que me abandonara o peito, não sei bem para onde...
Da escuridão, chamas dançarinas vão-se envolvendo em quentes volúpias de fogo que afasta o frio. Sem princípio nem fim, num movimento perpétuo, perfeito, e espalham luz e calor pelos recantos mais sombrios da tempestade passada.

Pouco a pouco vou serenando, sentindo o meu corpo repousar devagarinho como um ferido de batalhas antigas que regressa a casa.
E desperto.

Já não há noite no meu quarto. Só o luar e as chamas me ficam no coração... e com elas me entrego de novo ao sono, na esperança de voltar a sonhar.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Vertigem

Talvez pudesse o tempo parar
Quando tudo em nós se precipita
Quando a vida nos desgarra os sentidos
E não espera, ai quem dera

Houvesse um canto para se ficar
Longe da guerra feroz que nos domina
Se o amor fosse como um lugar a salvo
Sem medos, sem fragilidade

Tão bom pudesse o tempo parar
E voltar-se a preencher o vazio
É tão duro aprender que na vida
Nada se repete, nada se promete

Tão bom pudesse o tempo parar
E encharcar-me de azul e de longe
Acalmar a raiva aflita da vertigem
Sentir o teu braço e poder ficar
Mafalda Veiga

Acho que estou perdida...

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Difícil de sarar

Alguma vez desejaram tanto dormir que não conseguem?
Pois eu já.

Há noites que são difíceis de sarar. Noites em que os sonhos, sentimentos e pensamentos nos assaltam por entre as sombras do quarto. Aparecem de onde menos esperamos e desaparecem como vieram, deixando apenas isso mesmo: a sombra de si próprios.
Como é que se luta contra uma sombra da noite? Como é que a agarramos para a pôr atrás das costas? Como é que se faz para esquecer o que é omnipresente?

E os pensamentos vão ficando, ténues, quase imperceptíveis, mas acompanhados por uma sensação que sem deixar de ser dolorosa quase se torna companheira, de tanto que está presente dentro de nós.
Nem a luz do dia (tantas vezes inimiga e nestas alturas tão desejada) nos leva a impressão deixada pelos sonhos tormentosos da noite. Por vezes, já nem a lembrança do sonho existe; apenas o desconforto de saber que existiu, que se prolonga pelos dias e noites amorfas que se seguem.

Como se saram as feridas destas noites?

Tempo... e esperando que os sonhos que as acompanham sejam de novo dos que nos envolvem e nos levam ao Olimpo, daqueles doces que nos embalam um sono do qual não se quer acordar...