sábado, 23 de fevereiro de 2008

O coração que conte

"A vida não é dia sim, dia não
É feita em cada entrega alucinada
para receber daquilo que aumenta o coração"

Mafalda Veiga, Restolho

Durante a noite o meu coração encheu-se com um sentimento que, tal como fermento, cresceu mais do que eu queria. De manhã, a transbordar e à força de tanto bater, saltou-me do peito...
Agora tenho-o nas mãos. Já não é meu...


Sem a protecção dos muros que já tinha construído à sua volta e do meu corpo que impedia que o tocassem, não sei bem como mantê-lo inteiro. Vou tentando equilibrá-lo para que não caia, de mãos estendidas, uma para o proteger, a outra para o entregar. Tenho ainda a esperança que outro peito, maior que o meu, seja capaz de o acolher e sossegar. Pode ser que bata mais de mansinho e um dia possa voltar para de onde partiu, quem sabe acompanhado.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Toque

Como uma rosa.
Pétalas abraçadas, envolvidas numa obra prima da Natureza. Nunca se sabe onde começa ou acaba. Cada pétala é o prolongamento de outra, como se algo imperceptível aos sentidos as unisse. São notas de uma harmonia cuja sonoridade quente do acorde se prolonga para além do espaço e do tempo.

Como veludo.
São assim as pétalas de uma rosa. O macio do toque, a magia da visão, um momento sobrenatural e sublime. Envolve o espírito e as almas, subtraindo-as (mesmo que por um instante só) ao mundo real, aproximando-as do Eterno numa ternura que não se diz, mas que se sente.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Lá fora a chuva vai batendo na janela, cantando apesar dos assobios furiosos do vento. Cá dentro, o calor e o conforto do meu quarto são um bálsamo para o corpo e para a alma cansados das duras provas do dia-a-dia.
Foi com o chegar da noite que o meu coração serenou. No ar pairava um leve cheirinho a café e eu ia-me deixando embalar num doce abraço, não sei se real ou sonhado, pois a pouco e pouco o calor da noite foi tomando conta de mim...

Guardo-o, a esse abraço, bem dentro do meu peito como um tesouro precioso. Evoco-o quando a saudade dói e envolvo-me nele antes de dormir para que guarde o meu sono e não deixe fugir o meu coração...

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Quero voltar a dançar

O nascer do sol devia ser um dos momentos mais bonitos do dia... contudo é para mim o mais doloroso.

É durante a noite que os sonhos se tornam presentes, que deixo âncoras e sou livre, num mundo muito longe do real. Sou levada para longe pela música de Piazzolla, e ao som de um bandoneão faço da noite meu par, rodopio nos seus braços, perco-me na sua imensidão... e sou imortal!

Queria voltar a sonhar... dançar de novo uma e outra vez nos braços da noite, envolvida pelas notas quentes do Libertango e esquecer-me de mim e das correntes do mundo real.

Mas mal o sol nasce, vem com o dia a saudade da noite que passou. Se ao menos eu pudesse como Chronos dominar o Tempo à minha vontade, a noite não passaria nunca e o dia seria apenas uma leve recordação do instante que precede cada noite que chega...