sexta-feira, 27 de julho de 2007

Nocturnos

Noite.
No meu quarto a luz da lua espreita por entre as frestas, na esperança de ouvir um pouco dos Nocturnos de Chopin que me embalam o sono. Ou melhor, a vigília, porque o sono tarda em chegar... Hoje, como sempre, é a Solidão que me acompanha. A única constante desde que me conheço como gente...

Música, e Silêncio. Música no exterior, que soa entre estas quatro paredes que bem podiam fazer parte de uma casinha de bonecas... Silêncio no interior, dentro de mim. Quase nem tenho coragem de articular um pensamento: não vá também a Solidão decidir ir-se embora.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Aos amigos que (não) vão...


As despedidas deviam ser proibidas. Não deveria ser permitido deixar ir para longe aqueles de quem se gosta. Todos os anos, esta malfadada vida de saltimbanco, que é como quem diz professor contratado, leva-me para novas paragens. Novos sítios, novo trabalho, nova casa, nova vida, novos amigos. À primeira vista nem parece assim tão mau...

O problema é que ano após ano tudo muda. O início é sempre uma descoberta, quase uma aventura. Depois assentamos e fazemos amigos. E mal damos por isso chega Julho. O doloroso mês de Julho.
A escola fica vazia, como um prenúncio do que acontece com a nossa alma quando os amigos vão embora. É claro que não vão embora de todo, pois ficam para sempre num cantinho especial cá dentro do peito, mesmo ao lado do que é ocupado pela saudade dos momentos vividos em conjunto.

Mas dói. Muito!
E não há meio de nos habituarmos. Isso, só quando o coração deixar de bater e for engolido pela escuridão da morte. Quase dá vontade de nos isolarmos sobre nós próprios... Não sei o que é pior, se o sofrimento da solidão, se a dor de ver partir os amigos.
E os meus vão todos para longe.

Devia mesmo ser proibido...

sábado, 14 de julho de 2007

Libertango

Música. Novamente.
Desta vez não feita por mim. O tango de Piazzolla traz-me à memória danças de outras noites, em que, arrebatada de mim e levada para uma esfera de um negrume de céu, deixei de pertencer ao mundo mortal...

Ao escutar aqueles sons (que em breve serei eu a tocar) fecho os olhos e de repente... sou levada por aquela música, conduzida pelas entranhas das pautas. As notas sucedem-se, incisivas, numa mistura de som e memórias evocadas... Os instrumentos, um violino e uma guitarra, envolvem-se mutuamente: um par que se segue e completa como se fossem um só. Deixam de ser dois para se transformar num único ente do qual provém uma melodia vertiginosa, poderosa, sublime, intemporal!

E ao abrir os olhos...

O umbigo

Tem piada a forma como nos percepcionamos. Basicamente, tudo gira em torno do nosso próprio umbigo. É em torno dele que giram os nossos problemas, que são sempre tãããão graves... e por vezes, basta olhar para o lado para ver que há alguém com verdadeiros tormentos de vida.
Contudo, os bons momentos são vividos a sós. Ou com o umbigo. Queremos partilhar desgostos e esquecemo-nos de espalhar as nossas alegrias.

Não podemos escolher o que nos acontece, mas podemos decidir como enfrentar os acontecimentos. Eu não quero ser dos que passam a vida a chorar pelo meu umbigo. Mas gostava de ajudar a sorrir o umbigo dos outros.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Solidão acompanhada

Como é que é possível que no meio de uma multidão nos possamos sentir sozinhos? É como se aquelas presenças fossem para nós vasilhames vazios, sem conteúdo capaz de saciar a nossa sede por algo mais que uma simples presença...
Presença... física, entenda-se. Porque se o corpo está sem a alma é como se nada ali existisse de facto. Quantas vezes a própria multidão se sente só...

E aqui estamos nós, lado a lado, cada qual a sentir-se sozinho e a desejar ardentemente a presença efectiva do outro. Que será que é preciso para quebrar esses muros invisíveis que nos separam?

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Amigos

É impressionante o que nos passa pela cabeça quando estamos longe das pessoas. Por vezes, mesmo vivendo lado a lado não temos tempo para os amigos e sentimo-nos sós...

Que engano! O amigo está sempre presente, sentimo-lo quando as tarefas são árduas, quando os dias são penosos, quando parece que trazemos vestida uma pele que não é a nossa. É então que chega um carinho, um abraço, uma palavra dita do outro lado de um ecrã ou de um telefone, uma tolice que nos faz rir, aquela presença que sentimos mesmo quando o corpo não está...
... e de repente o trabalho não é penoso nem os dias solitários.

A todos os meus amigos, um grande grande beijo de quem, mesmo longe (e não me refiro só à distância física), não vos esquece. Obrigada!

terça-feira, 3 de julho de 2007

Degraus

Estou a terminar uma tarefa que já arrasto há um tempo. A minha hora favorita para trabalhar é o fim da tarde. Mas desta vez aquela luz já não me traz melancolia, antes me enche de um ânimo renovado, de cada vez que me lembra a minha meta aqui tão perto...
A pouco e pouco o trabalho aparece feito. E é tão bom acordar de manhã com a sensação de que já subi mais um degrau, de que o meu grande obstáculo começa finalmente a ser vencido! (oxalá tenha a força suficiente para levar a tarefa mesmo até ao fim...)
Seja como for é meu! O trabalho, o esforço, o cansaço, mas também a alegria de ver a tarefa cumprida.

Basicamente, estou feliz!