sábado, 29 de dezembro de 2007

Para o novo ano

Quando chega a noite do novo ano, toda a gente tem desejos. Doze, segundo a tradição. Quantos se concretizarão...?
Eu, tenho um só, para mim e para todos: ser feliz.

Que neste ano todos os desejos se realizem.
A receita é simples:

When you wish upon a star
Makes no difference who you are
Anything your heart desires
Will come to you

Com um pouco de loucura de viver, a Felicidade conquista-se dia a dia.

Feliz Ano Novo.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Levas-me... ?


"Somewhere over the rainbow
Blue birds fly
Birds fly over the rainbow
Why, then, oh why can't I? ..."

http://www.youtube.com/watch?v=10w_sEcHlGs


domingo, 23 de dezembro de 2007

E porque é Natal...


A mensagem do presépio é universal, intemporal e válida mesmo para quem não acredita. Aquele menino deitado numa mangedoura sob o olhar carinhoso dos pais lembra-nos que o Natal é para ser vivido com simplicidade, na companhia dos que mais amamos, e numa dádiva permanente para todos aqueles com quem nos cruzamos ao longo da vida.

Um Feliz Natal para todos.

sábado, 22 de dezembro de 2007

A propósito do Natal...

Três estrelas de alumínio
A luzir num céu de querosene
Um bêbedo julgando-se césar
Faz um discurso solene

Sombras chinesas nas ruas
Esmeram-se aranhas nas teias
Impacientam-se as gazuas
Corre o cavalo nas veias

Há uma luz na barraca
Lá dentro uma sagrada família
À porta um velho pneu com terra
Onde cresce uma buganvília

É o presépio de lata
Jingle bells, jingle bells,

Oiçam um choro de criança
Será branca negra ou mulata?
Toquem as trompas da esperança
E assentem bem qual a data

A lua leva a boa nova
Aos arrabaldes mais distantes
Avisa os pastores sem tecto
Tristes reis magos errantes
E vem um sol de chapa fina
Subindo a anunciar o dia
Dois anjinhos de cartolina
Vão cantando aleluia

É o presépio de lata
Jingle bells, jingle bells,

Nasceu enfim o menino
Foi posto aqui à falsa fé
A mãe deixou-o sozinho
E o pai não se sabe quem é

É o presépio de lata
Jingle bells, jingle bells

Rui Veloso - Presépio de lata.

Se puderem, procurem a música. Vale a pena ouvir... e pensar.

sábado, 15 de dezembro de 2007

À tarde no jardim

A luz do sol já se quer ir embora, e o crepúsculo vai-se instalando.
Do cimo de uma raiz de árvore que um dia foi magestosa, o mundo parece muito mais pequeno e insignificante. É como se fosse de novo menina e corresse por entre os canteiros deste novo jardim com a única preocupação de não esfolar os joelhos.

Descendo deste trono improvisado recosto-me num banco do jardim, admirando as estrelas que lá do alto me vão sorrindo, cúmplices.

Desta vez não sou eu que ascendo, é o céu que desce até junto de mim, me abraça e me vem fazer companhia neste banco recostado ao lado de um coreto de onde sai uma música que pode ser sentida, mas não escutada...

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Baloiço


Lembro-me dos meus tempos de miúda, em que um baloiço era o máximo de liberdade a que nós, crianças, poderíamos aspirar.
Agora que cresci queria de novo um baloiço. Mas desta vez um que me levasse para longe do mundo que me prende à terra e me fizesse voar com os pássaros. Queria subir em direcção a um outro mundo qualquer sem âncoras, onde os limites seriam apenas os que nos seriam impostos pela nossa própria imaginação.

Sim, queria voar com os pássaros. Depender apenas de mim, quebrar todas as cadeias e simplesmente... ser feliz.

domingo, 9 de dezembro de 2007

A hora da saudade


Antes de dormir. É essa a hora da saudade.

É como se todos os muros que construímos em torno do nosso coração se desfizessem como blocos de gelo a derreter ao sol... Ficamos mais frágeis e a saudade ataca, trazendo-nos à memória o que gostaríamos de ter conosco e ao coração a dolorosa consciência de que isso não é verdade.

Sem nada que nos leve para longe senão o nosso pensamento, vagueamos nas suas asas na ânsia de que o sono chegue e o sonho nos traga o desejado...

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Olhar

Esta é uma noite para me lembrar
que há qualquer coisa infinita como um firmamento
um sorriso, um abraço
que transcende o tempo.

E ter medo como dantes

de acordar a meio da noite

a precisar de um regaço.
Mafalda Veiga

Não é só o firmamento que é infinito. A nossa alma também, e um olhar também o pode ser. Um olhar perdido no meio de um abraço, um olhar que nos trespassa a alma e se aloja de mansinho dentro do peito...
Fica para sempre guardado com as memórias e as saudades que não passam, transcendendo o passar das horas e dos dias, sempre longe e sempre presente, no cantinho onde ficou num momento que aconteceu, mas que não passa.


sábado, 1 de dezembro de 2007

Fly me to the moon

Dia invernoso. O céu lá fora está cinzento mas cá dentro o calor faz-me sentir bem, aconchegada. Ao som de Frank Sinatra deixo-me levar para dentro de um filme antigo.

Tudo está a preto e branco, e pela minha porta entra um galã de cinema que me convida para dançar, cúmplice, quem sabe, da música sonhadora que se faz ouvir. Aceito e dançamos pelo dia fora, mas em direcção ao firmamento. O salão de dança passou a ser o céu estrelado e eu tenho um vestido comprido e etéreo, debruado a plumas e brilhantes.
"Fly me to the moon", vai cantando Sinatra, e nós rodopiamos cada vez mais esquecidos do que nos rodeia.

"Moonlight serenade" é a música que me traz de volta. Estou de novo sozinha sentada junto à janela, mas no meu bolso descubro... uma pluma negra.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Sonho?

Sonhei que o meu sonho era real. Que se materializara e me viera fazer companhia antes de dormir. Embalou-me e levou-me pela mão até ao lugar onde os sonhos são feitos... De lá podia ver o meu corpo aninhado no conforto das mantas e o sorriso que denunciava o estado de graça em que o meu íntimo se encontrava.

Foi curto o meu idílio, mas por tão grande que era também a crueldade do acordar foi enorme...

O sonho voltou para esse lugar longínquo e a realidade transformou-se então na dolorosa consciência do acordar, amenizada apenas pela esperança de voltar a dormir e, quem sabe, sonhar de novo...


domingo, 25 de novembro de 2007

...como un doble tambor


De noche, amada, amarra tu corazón al mío

y que ellos en el sueño derroten las tinieblas

como un doble tambor combatiendo en el bosque

contra el espeso muro de las hojas mojadas.


Pablo Neruda

Não quero derrotar as trevas da noite. Queria vergá-las à minha vontade, manter as horas como minhas aliadas, fazendo correr (ou parar) os ponteiros do relógio de acordo com os meus caprichos...
Manter o meu coração amarrado de tal forma que não fosse preciso derrotar as trevas, pois nem o dia seria capaz de desfazer o enlace que durante a noite se fez...

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Bird child

Às vezes sinto-me um bocadinho como ela...


quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Lorca


La aurora
nos unió sobre la cama,
las bocas puestas sobre el chorro helado
de una sangre sin fin que se derrama.

Y el sol

entró por el balcón cerrado

y el coral de la vida abrió su rama

sobre mi corazón amortajado.



Garcia Lorca "Noche de amor insomne"

sábado, 17 de novembro de 2007

Quem é o "louco"?

Ontem ao fim da tarde ao passear pela cidade não pude deixar de reparar na azáfama das pessoas que passavam. Por cima das nossas cabeças equipas de homens penduravam os esqueletos que se iluminarão com mil luzes brilhantes e coloridas assim que começar oficialmente a época natalícia. Os transeúntes conversavam entre si sobre a prenda para este ou para aquele, sobre os preços que estão pela hora da morte, todos carregados com sacos e com caras pesadas de quem está com pressa e tem muito para fazer. Outros passeiam o cartucho das castanhas, olhando as montras preocupados com o que terão ainda para comprar.

Olho para as pessoas e poucas são as caras estranhas. Évora é uma cidade pequena, onde nos cruzamos todos os dias às mesmas horas com as mesmas pessoas nas suas mesmas rotinas. Contudo, todos passam por todos e ninguém olha para ninguém, preocupados apenas com o Natal que se aproxima, indiferentes a quem está, a quem passa, até mesmo à beleza desta praça centenária.

Enquanto estava eu também perdida nos meus pensamentos a observar aquele formigueiro vejo chegar alguém a quem a cidade lestamente colocou um rótulo de "louco". Tantas e tantas vezes já nos cruzámos nas nossas rotinas diárias ou simplesmente em tardes de passeio...
Também ele vinha ensimesmado, falando consigo próprio e a discutir uma qualquer ideia com o seu pensamento. No entanto, foi ele o único ser com alma humana naquele local. Levantando a cabeça, abriu o sorriso e com a única voz gentil que se fez ouvir naquela praça saudou-me com simpatia: "Boa tarde..."



sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Advento

Nesta altura em que um pouco por todo o lado se prepara o Natal com mil luzes, presentes, compras e correrias, não consigo deixar de me recordar do Kyrie, de Ary dos Santos:

Em nome dos que choram,
Dos que sofrem,
Dos que acendem na noite o facho da revolta
E que de noite morrem,
Com esperança nos olhos e arames em volta.
Em nome dos que sonham com palavras
De amor e paz que nunca foram ditas,
Em nome dos que rezam em silêncio
E falam em silêncio
E estendem em silêncio as duas mãos aflitas.
Em nome dos que pedem em segredo
A esmola que os humilha e os destrói
E devoram as lágrimas e o medo
Quando a fome lhes dói.
Em nome dos que dormem ao relento
Numa cama de chuva com lençóis de vento
O sono da miséria, terrível e profundo.
Em nome dos teus filhos que esqueceste,
Filho de Deus que nunca mais nasceste,
Volta outra vez ao mundo!

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Noite


Lá fora brilham as estrelas. O céu limpo tem por certo um luar que as portadas da minha janela não deixam entrar.

Só posso imaginar a luz que dele emana, a beleza que a noite terá, negra de veludo, pespontada pelas estrelas, minúsculas, tão distantes mas tão próximas...

Cá dentro nem o calor das chamas que bruxuleiam na escuridão nem o conforto do meu leito chegam para me embalar. E é enquanto o sono não vem que aqui fico, a sonhar sem dormir, a ver com os olhos da alma aquilo que o meu olhar não pode alcançar.

domingo, 11 de novembro de 2007

Pedro e o Lobo

Para quem gosta de música e mais que isso adora uma boa história à lareira, aqui fica um pequeno mimo em três actos. Enjoy.







quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Muito mais que o sol

Palavras para quê?

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Quietude


Depois de o Tempo voar, o silêncio.
Este ingrato teima em fugir e negar-me um pouco mais do pouco tempo que me concede. Às vezes pára: um segundo apenas que vale por uma eternidade! Mas ai de mim, antes que dê conta já voou, roubando-me e levando cruelmente para longe esse pequeno fragmento mágico de si próprio...

Então resta-me apenas a quietude da minha alma inquieta que, apesar do silêncio que enche o ar misturado com aromas de incenso, não consegue repousar desta sua eterna viagem. Quanto a mim só posso ficar, quieta, mas a desejar o momento que parou, o tempo que fugiu, num grito mudo de quem chama por algo de si que lhe foi subitamente arrancado.

sábado, 3 de novembro de 2007

Palavras


Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.

É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és nao vem à flor
Das caras e dos dias.

Tu és melhor -- muito melhor!
Do que tu. Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.

Mário Cesariny

Que fazer quando as palavras não servem?
Quantas vezes as palavras nos assomam à boca e se quedam lá, mudas, incapazes de traduzir o que nos vai na alma?

Como dizer o indizível?



Snobs

Ao vaguear pelo youtube, tropecei neste pequeno tesouro que me faz sempre sorrir. Lembra-me alguns narizes empinados que conheci na minha vida. Por este mundo fora encontramos muitas vezes alguns elementos dessa elite dos "sangue-azul", sem brasão nem dinheiro, mas com a mania de que são alguém. O pior é o desprezo manifesto com que tratam quem opta por um estilo de vida diferente.

Para todas essas pessoas "importantes", aqui fica este pequeno vídeo.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Pré-histórias


Uma tarde dourada de Outono é sempre repleta de Magia!
Campos imensos espalham-se num horizonte por descobrir e a força criadora da Terra invade-me os sentidos, sem que nada possa fazer para lhe resistir. Demónios e diabretes parecem espreitar a cada canto, detrás de majestosos menires, no meio de círculos mágicos de pedras ou simplesmente atrás dos ramos de uma árvore.
Nem eu sei que arrebatamento é este.
Só pode ser sonho com certeza... ou feitiço.

sábado, 27 de outubro de 2007

Noite e dia


Noite de lua cheia.
Grande, branca, com o seu brilho a romper a escuridão da noite.
De madrugada, entra de mansinho pela minha janela e vem fazer-me companhia. É então que a pequena caixa junto à minha cama se abre, sonho e realidade confundem-se, e eu faço parte do luar...

Mas é curto o meu devaneio. A cruel luz do dia sobrepõe-se à magia da noite e arranca-me ao sonho que me envolve, deixando-me a ansiar de novo pelo regresso da madrugada.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Adriano


Há 25 anos morreu um dos nossos cantores da Liberdade.

Adriano não escreveu poemas, mas soube escolhê-los e cantar magistralmente, com toda a alma que aquela geração tinha e nos deixou por legado, e de certo modo ainda se respira nos sítios por onde passaram.
Não acredito que o seu espírito tenha morrido. Os seus ideais são cada vez mais pertinentes. A sociedade mudou, mas a ânsia de transformar é a mesma.

Ainda há Adrianos e Zecas por este mundo fora, que acreditam que o mundo pode mudar e lutam todos os dias para fazer a diferença.

A todos eles, aqui deixo a "Trova do Amor Lusíada"

Meu amor é marinheiro
Meu amor mora no mar
Meu amor disse que tinha
Na boca um gosto a saudade
E uns cabelos onde nascem
Os ventos e a liberdade

Meu amor é marinheiro
Meu amor mora no mar
Seus braços são como o vento
Ninguém os pode amarrar



segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Diálogos







Uma nota, uma só, suspensa com a maior das doçuras. É o oboé que começa, de mansinho, sustentado pelo pizzicatto das cordas, como gotinhas de chuva na janela.

Entra então o violino, no mesmo motivo, com a mesma doçura, abraçando-se as melodias como dois amantes no seu silêncio.

Os instrumentos seguem-se num diálogo sem palavras, feito apenas de arte, imortal, transcendente. Onde termina o oboé começa o violino, vão-se sucedendo um ao outro num diálogo perfeito e completam-se, num movimento ascendente e sublime que os conduz ao infinito.

A ternura do percurso, o intimismo do movimento, a intensidade da envolvência mútua que os subtrai a tudo quanto é terreno... Chronos perdeu o seu poder e o Olimpo aqui tão perto...

domingo, 14 de outubro de 2007

Halloween

E porque nos estamos a aproximar do Halloween, aqui ficam alguns trailers de um dos meus filmes favoritos.

Já alguma vez alguém pensou de onde vêm os feriados?


http://www.youtube.com/watch?v=Bz2Ho62dVr0

http://www.youtube.com/watch?v=sEK5w2MWB1Y

http://www.youtube.com/watch?v=sP5hVGA3WAg

http://www.youtube.com/watch?v=e9kCG7U5A

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Tesouros

Tenho uma caixinha onde guardo um bocadinho de noite. Roubei, sem que ninguém visse, um pedacinho de céu, cheio de estrelas e um bocadinho de luar.

Antes de dormir coloco essa caixinha junto à minha cama e abro-a com todo o cuidado para que faça parte dos meus sonhos.

Cerbero, guarda fiel, vela o meu sono até que Morfeu me venha buscar...

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Eros e Psyche

Canova, "Eros e Psyche"

Divinos e humanos, num abraço infindável que nem a eternidade poderá desenlaçar. Os ponteiros não seguem o seu caminho, o espaço não existe e o tempo não o é. Nada em volta tem significado, nada mais é real. Só os dois, abraçados, enlaçados, envolvidos um no outro numa união perfeita de corpo e alma. Fundem-se num só ser sobre-humano, sublime, incomeço e infinito, subtraídos ao mundo terreno pelos seus próprios braços, pelos seus corações uníssonos.

Eros perdido no olhar de Psyche, abandonada aos braços de Eros. Juntos são um só. Como num círculo uno e perfeito, ele tem origem nela, ela forma-se a partir dele. Impossível dizer qual é qual.

Um beijo, um olhar, a ternura de um abraço que não tem fim. A paz do silêncio, o tempo que não passa e os dois continuam um...

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Tempestade(s)


Enquanto a chuva cai lá fora eu aproveito o aconchego de casa.
Este tempo é propício à divagação e, sem eu querer, vejo-me a sair janela fora a palmilhar caminhos e montes e vales para bem longe.

Procuro nem eu sei bem o quê. Ou talvez saiba, mas não encontro...

Pelo caminho perco-me no meio de pensamentos que me assaltam inesperadamente, tropeço em sentimentos que há muito julgava perdidos e vagueio no meio de um turbilhão ainda maior que o das folhas que rodopiam incessantemente lá fora, fustigadas pelo vento de Outono.

Só a luz de um relâmpago que rasga o céu e o troar que o acompanham são capazes de me arrancar desta modorra. É bom estar de volta, enroscar-me numa almofada e esquecer o mundo lá fora (e cá de dentro também), dissolvendo-o com açúcar numa bela chávena de chocolate quente.

sábado, 29 de setembro de 2007

Outono

Gosto do Outono.
Lá fora, a chuva canta nas janelas e o vento vai cantando quando passa pelas ameias do castelo. Quem passa pela rua arrepia-se com o vento frio que chega da Figueira e aperta um pouco mais o passo para chegar a casa. Quase que dá para sentir o cheirinho das lareiras que em breve se começarão a acender por toda a encosta.
Cá dentro o calor de casa, um chá quentinho com torradas no conforto do meu quarto, de janela rasgada sobre os campos do Mondego, e o meu gato, preguiçoso, aninha-se no meu colo e ronrona reclamando por mais mimos ao som de "Claire de Lune".

Gosto do Outono.
A sua chegada é o início de um novo ano lectivo (meu Deus, como gosto daquilo que faço...), cheio de esperanças e expectativas: dos alunos em relação à escola, minhas em relação ao que poderei fazer pelos meus alunos.
Quando vem prenuncia com doçura os dias Invernosos que fustigarão cidades e gentes, como que a amaciar o caminho para tão dura estação...

Gosto do Outono.
É como um regresso às origens mais íntimas de nós mesmos. Pouco a pouco vou-me tornando mais íntima de mim mesma, vai-se instalando a saudade do que passou e aumentado o desejo (mas também o receio) pelo que virá. Mas ao olhar para o meu gato dou-me conta de que o melhor mesmo, no Outono, é gozar com displicência estas tardes chuvosas ou douradas, aproveitar o conforto dos dias com o aroma de um bom chá e fechar os olhos de mansinho para me deixar levar pelos acordes mágicos de Debussy.



sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Devaneios

Com o fim da tarde veio o vento frio que prenuncia a chegada da nova estação. Só a noite me trouxe algum calor.

Foi por ela que no meu íntimo esperei todo o dia, na ânsia de me poder abandonar ao seu manto quente de veludo negro. Ao chegar, é como se em mim o frio da tarde tivesse desaparecido por completo e a luz do luar que enche o céu também transbordasse dentro do meu quarto, iluminando mesmo os seus mais escuros recônditos. Somos um só ser, eu e a noite, unidas como prolongamento de uma só coisa, sem princípio nem fim, irmanadas numa dança interminável, ao som de uma música que só pode ser sentida mas não escutada.

Gostava de saber como me vê ela a mim quando chega, se sonhará sequer o quanto é desejada quando vem e a angústia que me domina quando vai... O meu inimigo é o tempo, que insiste em trazer a aurora, a luz cruel do novo dia que me leva este céu nocturno e me deixa abandonada a mim própria e à solidão de ver partir com a noite um pedaço de mim.

Um dia, como Faetonte, serei capaz de roubar o carro de Helios, travar a passagem do tempo e ver fugir assustadas as horas, deixando-me ficar protegida pelo negrume deste abraço eterno e infindável, que permanece mesmo para além do espaço e do tempo.


sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Ballada para un loco

Para ti, amigo,

que sonhas mais alto do que o próprio sonho permite,
que achas que o mundo pode ser sempre um bocadinho melhor,
que ergues bem alto as garras da tua indignação perante o socialmente instituído,
que destróis com a tua lança de cavaleiro os moinhos dos gigantes deste país,
que constróis castelos nas nuvens mesmo quando te voltam as costas,
que não desistes de acreditar na bondade das pessoas,
e que estás sempre pronto para estender uma mão generosa.

Para ti, que me inspiras a sonhar mais alto,
me ensinas a ser mais do que eu,
a lutar por ideais nem sempre atingíveis,
a acreditar sempre, mesmo perante contrariedades intransponíveis,
e que o que importa não é a conquista, mas a luta.

Obrigada.


De Astor Piazzolla:

Y, así diciendo, El loco me convida
A andar en su ilusión super-sport,
y vamos a correr por las cornisas
¡con una golondrina en el motor!
De Vieytes nos aplauden: “Viva! Viva!”,
los locos que inventaron el Amor;
y un angel y un soldado y una niña
nos dan un valsecito bailador.

Nos sale a saludar la gente linda...
Y El loco, loco mío, ¡qué sé yo!,
provoca campanarios con su risa,
y al fin, me mira, y canta a media voz:

Quereme asi, piantao, piantao, piantao...
Trepate a esa ternura de locos que hay en mi,
ponete esa peluca de alondras, y vola!
Vola conmigo ya! Veni, vola, veni!

(tradução para inglês em http://www.planet-tango.com/lyrics/bal-loco.htm)

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Mouraria

Não é só em Lisboa que existe a Mouraria. Em quase todas as nossas cidades e vilas históricas existem pequenos bairros aos quais se confinavam estas minorias que mantinham viva a cultura que lhe era própria numa pátria que não era a sua...

Na Mouraria, em Évora, já não há mouros. Resiste apenas o espírito de comunidade, como uma aldeia dentro da cidade. Somos uma família, e quem vem de novo passa a fazer parte desta "ilha" de afectos, onde todos se conhecem e se cumprimentam, onde as tristezas de uns são as tristezas de todos, onde as alegrias de outros são compartilhadas por quem as não tem. Há sempre braços para dar uma ajuda, um sorriso para alegrar o dia, um piropo inocente para a amiga que passa.

Gosto de aqui morar. É como se estivesse no meu Montemor (não o novo, mas o velhinho), nas ruas do castelo que me lembram que também aquela foi terra de mouros e que talvez sangue gentio ainda me corra nas veias...

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Nós e... os outros

O Dalai Lama visita Portugal. Mais uma vez temos entre nós o Prémio Nobel da Paz, que não será recebido pelos representantes do Estado Português. Gostaria de saber porque é que os nossos governantes recebem personalidades como George Bush, líder de um país hipócrita, imperialista, manipulador, mentiroso, com um poderio baseado no medo sustentado no seu superior poder bélico sobre os países que não têm capacidade de resposta...
E o Prémio Nobel da Paz, principal representante de um país onde os direitos humanos são frequentemente cilindrados por outro país invasor e opressor, bélico e esmagador sobre quem vive de uma forma tão pacífica. Tudo isto por causa das "nossas" relações diplomáticas com a China. Nossas... minhas não são concerteza, se implicam tal posição. Vergonha nacional!!!

Lhasa, Tibete (Após a invasão chinesa)

Recebemos os líderes espirituais da Igreja Católica, do Judaísmo, do Islamismo... e o Dalai Lama passará incógnito. Afinal de contas, não somos nós um país tolerante e aberto de igual forma a todas as religiões?
Até as pedras do chão se levantarão para saudar uma personalidade tão marcante da sociedade mundial, que passará incógnita para os nossos governantes, mas que espalhará toda a sua luz sobre o país que, à revelia de tal governo, o receberá de braços abertos.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Shhhh...

"As pessoas só se permitem ficar caladas um bom bocado e desfrutar o silêncio entre dois quando estão juntas, uma ao lado da outra."

Pedro Juán Gutierrez


Não conheço nada tão eloquente como o silêncio. Existirá melhor forma que esta de conversar com alguém? As palavras de nada valem se não forem sentidas, e nem sempre o que sentimos cabe nas palavras que são proferidas.

Por isso o melhor é estar calado. Dar asas à imaginação, aos sentimentos, à cumplicidade, à amizade, ao simples gosto da presença do outro. Às vezes basta isso para afastar todos os problemas do mundo, por maiores que eles sejam. E diz-se tanto com um olhar, com um gesto, um abraço, ou de olhos fechados, sem ver nem tocar, com a certeza de que estamos em sintonia...

Vésperas

Desta vez o tempo não se deteve no seu caminho. Pelo contrário, voou, negando-me o que há muito ansiava...

A noite veio de mansinho mas trouxe consigo a luz de um céu agitado por clarões de raios abrasadores. Embora esperando a doçura de uma noite de estio, ainda assim fui envolvida nesta tempestade e arrebatada do mundo terreno para onde nada mais existe senão eu e a própria noite, unidas como se de uma só coisa se tratasse.

Mas, ai de mim, foi fugaz a minha sorte e o meu encanto, pois o tempo cruel acelerou o seu passo, fez chegar a madrugada e com ela a solidão da despertina que substituiu no meu infortúnio o encanto nocturno que passou...


domingo, 9 de setembro de 2007

A Feira do Ano

É talvez o meu dia favorito do ano (a seguir ao Natal, claro)! Em Montemor respira-se ar de festa. Famílias inteiras de lugares próximos (e distantes também) acorrem à vila para as festas anuais.
De manhã, somos acordados pelo som dos barateiros que vendem os melhores produtos do mundo pelos preços mais baixos do mercado, com uma lábia que nos convencem de que o que vendem nos é imprescindível. No ar mistura-se o cheirinho das farturas acabadas de fazer, pipocas quentinhas e algodão doce, e ao chegar o meio dia junta-se também o apetitoso aroma de frango assado para nos abrir o apetite para o lauto almoço que nos espera.
Os pregões ainda ecoam pelo ar, indiferentes ao passar do tempo e dos cartazes a anunciar meias "cada maço 5 euros" e se pararmos para escutar, é o choro da criança que pede um briquedo ou deixou fugir o balão, o riso de outra que corre contente atrás do camião que o avô acabou de dar, o regateio da mulher que acha que o preço dos tapetes está pela hora da morte... e as cassetes piratas, misturadas com as que não o são mas que passam todas por originais animam ainda mais a tarde.


Os carrocéis fazem as delícias de miúdos e graúdos, e todos se encaminham para a Feira do Cavalo, onde cavalinhos de brincar se confundem taco a taco com os Cruzados Lusitanos tão típicos da nossa zona, e quer uns quer outros se deixam afagar docilmente pelas mãos curiosas dos meninos que passam.

O gelado! O fabuloso sorvete vendido em carrinhos ambulantes, com aqueles cones duplos que só se encontram nas feiras. É o único sítio do mundo onde se consegue uma bola de gelado com todos os sabores misturados!!!!
E sou criança outra vez. Com o meu gelado na mão caminho docemente ao encontro da minha infância, em que era a minha avó que mo comprava depois de muito a massacrar com os meus pedidos insistentes e o meu avô me trazia aqueles fantásticos colares de pinhões, sempre acompanhados por uma linda boneca de plástico. Eu, e todos os pais e avós que levam as suas crianças pela mão e nelas revivem os seus tempos de mocidade nesta feira que encanta gerações...

sábado, 1 de setembro de 2007

Mudanças

Chega Setembro, e com ele um novo ciclo. Para trás, ficam as caras com que convivemos diariamente durante um ano. O coração aperta-se por deixar aquela convivência, pela saudade antecipada dos tempos passados com as companhias que se tornaram tão queridas. Outras virão: novas caras, novos amigos, novos espaços. Vamos prender-nos de novo e em cada sítio fica sempre um bocadinho de nós.

Começa o novo ano, adaptamo-nos e levamo-lo de bandeiras erguidas até ao fim. E em Agosto volta tudo ao mesmo.
Até quando...?

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Insónia

Tenho sono, não durmo, sinto e não sei em que sentir.
Sou uma sensação sem pessoa correspondente,
Uma abstracção de autoconsciência sem de quê,
Salvo o necessário para sentir consciência,
Salvo — sei lá salvo o quê...
Álvaro de Campos

As horas passam. Lá fora tudo descansa de um dia passado, recupera forças para a manhã futura. Cá dentro o sono não chega... e a solidão, terrível, instala-se.
O corpo exausto desespera pela madrugada. Parece que já nem a alma tem forças para se mover. Ao menos ela poderia fugir para onde nada lhe chegasse, protegida por si própria do mundo, e almejar algum descanso.

Não consigo deixar de pensar na ironia da minha relação com o Tempo. Aquele ingrato! Foge-me, escapa-se-me por entre os dedos levando consigo a doçura dos momentos que quero perpetuar e recusa-se a seguir o seu caminho quando as horas me são dolorosas. Nem forças tenho para alcançar o relógio... até a noção dele próprio o ingrato já me nega...

Esperar... a única coisa que se pode fazer quando é a insónia a companheira de leito. Esperar pela madrugada, ou então que o corpo (não será antes a alma?) se renda à exaustão.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Por um breve momento...

... consegui que o tempo parasse.

O segredo? Nem eu sei como aconteceu.

Sei que eu não me pertencia, a esfera terrena desapareceu e o meu mundo passou a ser o céu negro da noite que me envolvia.


Ao abrir os olhos, por um momento, esse em que o tempo parou, ainda pude fitar o céu nocturno... até o ponteiro retomar de novo o seu doloroso caminho.


quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Regresso

Depois de um merecido período de férias, eis-me de regresso àquela que já posso chamar de "minha" cidade, a par com a minha doce Coimbra. A vista ao longe da cidade traz-me a recordação de um ano inteiro que passou. Memórias amargas, algumas, mas também muito doces outras. São estas últimas as que perduram e que me fazem sentir tão feliz por reencontrar tudo como deixei...

Tal como antes, no meu passeio pela cidade fui atraída pelo Jardim onde tantas e tantas vezes acabei as tardes. Pelo caminho, as caras familiares do encontro diário (mesmo sem saber o nome daqueles por quem passo), as ruas que me parecem saudar com um novo ar, e este vento saboroso de fim de Verão que anuncia o novo ano (lectivo, está bom de ver). Ao chegar, espera-me um poente de ouro que cobre o casario estendido aos pés de tão antigo templo. É o suficiente para me encher de uma alegria infinda pelo regresso, mas também de uma gratidão imensa e uma esperança renovada pela não-partida...

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Férias

Como qualquer tuga que se preze, rumei ao sul do país para descansar da lufa-lufa do dia-a-dia.

Eu, o resto do nosso país em peso (e que pesados que eram alguns) e metade dos reais súbditos de Sua Majestade, que facilmente passariam despercebidos num aquário de lagostas (e das recheadas, pelo menos a avaliar pelo conteúdo da carteira de alguns).

Praias super-lotadas, um trânsito horroroso, encontrões, faltas de paciência e um civismo praticamente inexistente vão sendo os pratos diários nas praias portuguesas. Isto já para não falar do péssimo serviço a que os (supostos) profissionais da restauração algarvia já nos vão habituando.

Apesar de tudo, nada que um leitor de mp3, um bom livro (ou dois ou três) e um mergulho beeeeeem longo não ajudem a esquecer. Quanto a mim, consegui alhear-me da turba agitada que me rodeou nestes dias e apesar de tudo descansei e aproveitei a companhia da família.

Gostava era de saber de que é que as outras pessoas tiram férias...

domingo, 5 de agosto de 2007

À noite

Queria voltar a dançar...
Uma daquelas danças em que a noite é o meu par. Em que me esqueço de mim e me deixo arrebatar por melodias insonoras, só adivinhadas pelos ouvidos da minha alma. Viajar para esferas onde o tempo não signifique mais que um lindo relógio pendurado na parede, cujos ponteiros permanecem imóveis, como eu ficarei nos braços daquele negrume de céu nocturno.
Então fujo (ou sou levada, não sei...) para longe deste mundo terreno, faço parte do firmamento e eu já não sou eu. Vagueio por entre as estrelas, danço pelo meio das nuvens, subo ao Olimpo e sou imortal até que...
... exausto, o meu ser regressa ao mundo mortal. Queda-se imóvel, descansado no seu leito de noite, com a certeza de que os ponteiros jamais voltarão a andar no cenáculo onde repousa.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Nocturnos

Noite.
No meu quarto a luz da lua espreita por entre as frestas, na esperança de ouvir um pouco dos Nocturnos de Chopin que me embalam o sono. Ou melhor, a vigília, porque o sono tarda em chegar... Hoje, como sempre, é a Solidão que me acompanha. A única constante desde que me conheço como gente...

Música, e Silêncio. Música no exterior, que soa entre estas quatro paredes que bem podiam fazer parte de uma casinha de bonecas... Silêncio no interior, dentro de mim. Quase nem tenho coragem de articular um pensamento: não vá também a Solidão decidir ir-se embora.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Aos amigos que (não) vão...


As despedidas deviam ser proibidas. Não deveria ser permitido deixar ir para longe aqueles de quem se gosta. Todos os anos, esta malfadada vida de saltimbanco, que é como quem diz professor contratado, leva-me para novas paragens. Novos sítios, novo trabalho, nova casa, nova vida, novos amigos. À primeira vista nem parece assim tão mau...

O problema é que ano após ano tudo muda. O início é sempre uma descoberta, quase uma aventura. Depois assentamos e fazemos amigos. E mal damos por isso chega Julho. O doloroso mês de Julho.
A escola fica vazia, como um prenúncio do que acontece com a nossa alma quando os amigos vão embora. É claro que não vão embora de todo, pois ficam para sempre num cantinho especial cá dentro do peito, mesmo ao lado do que é ocupado pela saudade dos momentos vividos em conjunto.

Mas dói. Muito!
E não há meio de nos habituarmos. Isso, só quando o coração deixar de bater e for engolido pela escuridão da morte. Quase dá vontade de nos isolarmos sobre nós próprios... Não sei o que é pior, se o sofrimento da solidão, se a dor de ver partir os amigos.
E os meus vão todos para longe.

Devia mesmo ser proibido...

sábado, 14 de julho de 2007

Libertango

Música. Novamente.
Desta vez não feita por mim. O tango de Piazzolla traz-me à memória danças de outras noites, em que, arrebatada de mim e levada para uma esfera de um negrume de céu, deixei de pertencer ao mundo mortal...

Ao escutar aqueles sons (que em breve serei eu a tocar) fecho os olhos e de repente... sou levada por aquela música, conduzida pelas entranhas das pautas. As notas sucedem-se, incisivas, numa mistura de som e memórias evocadas... Os instrumentos, um violino e uma guitarra, envolvem-se mutuamente: um par que se segue e completa como se fossem um só. Deixam de ser dois para se transformar num único ente do qual provém uma melodia vertiginosa, poderosa, sublime, intemporal!

E ao abrir os olhos...

O umbigo

Tem piada a forma como nos percepcionamos. Basicamente, tudo gira em torno do nosso próprio umbigo. É em torno dele que giram os nossos problemas, que são sempre tãããão graves... e por vezes, basta olhar para o lado para ver que há alguém com verdadeiros tormentos de vida.
Contudo, os bons momentos são vividos a sós. Ou com o umbigo. Queremos partilhar desgostos e esquecemo-nos de espalhar as nossas alegrias.

Não podemos escolher o que nos acontece, mas podemos decidir como enfrentar os acontecimentos. Eu não quero ser dos que passam a vida a chorar pelo meu umbigo. Mas gostava de ajudar a sorrir o umbigo dos outros.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Solidão acompanhada

Como é que é possível que no meio de uma multidão nos possamos sentir sozinhos? É como se aquelas presenças fossem para nós vasilhames vazios, sem conteúdo capaz de saciar a nossa sede por algo mais que uma simples presença...
Presença... física, entenda-se. Porque se o corpo está sem a alma é como se nada ali existisse de facto. Quantas vezes a própria multidão se sente só...

E aqui estamos nós, lado a lado, cada qual a sentir-se sozinho e a desejar ardentemente a presença efectiva do outro. Que será que é preciso para quebrar esses muros invisíveis que nos separam?

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Amigos

É impressionante o que nos passa pela cabeça quando estamos longe das pessoas. Por vezes, mesmo vivendo lado a lado não temos tempo para os amigos e sentimo-nos sós...

Que engano! O amigo está sempre presente, sentimo-lo quando as tarefas são árduas, quando os dias são penosos, quando parece que trazemos vestida uma pele que não é a nossa. É então que chega um carinho, um abraço, uma palavra dita do outro lado de um ecrã ou de um telefone, uma tolice que nos faz rir, aquela presença que sentimos mesmo quando o corpo não está...
... e de repente o trabalho não é penoso nem os dias solitários.

A todos os meus amigos, um grande grande beijo de quem, mesmo longe (e não me refiro só à distância física), não vos esquece. Obrigada!

terça-feira, 3 de julho de 2007

Degraus

Estou a terminar uma tarefa que já arrasto há um tempo. A minha hora favorita para trabalhar é o fim da tarde. Mas desta vez aquela luz já não me traz melancolia, antes me enche de um ânimo renovado, de cada vez que me lembra a minha meta aqui tão perto...
A pouco e pouco o trabalho aparece feito. E é tão bom acordar de manhã com a sensação de que já subi mais um degrau, de que o meu grande obstáculo começa finalmente a ser vencido! (oxalá tenha a força suficiente para levar a tarefa mesmo até ao fim...)
Seja como for é meu! O trabalho, o esforço, o cansaço, mas também a alegria de ver a tarefa cumprida.

Basicamente, estou feliz!

terça-feira, 26 de junho de 2007

Bedtime Story

Vagueio. Outra vez.
São estes breves minutos, antes de adormecer que me permitem ir onde a luz do dia não deixa. É a hora da saudade...

Uma vez, só uma, gostava de adormecer serena. Abrir os olhos de manhã, poder cumprimentar o dia com um beijo e ter a certeza de que a viagem do meu ser não foi só mais um sonho.
E a seguir, atar o sol com uma fitinha dourada à cabeceira da minha cama e deixar toda a gente no mundo descobrir que o relógio não desperta porque o tempo parou!

Prioridades. Outras.

O tempo é líquido. Escapa-se-nos por entre os dedos. Parece que quanto mais o tentamos parar, mais ele escorre, veloz e implacável, para onde já não é possível apanhá-lo.

Nunca há tempo, e por isso mesmo pensamos sempre no amigo que temos de rever, no doente para visitar, na tristeza que precisa de consolo ou na alegria que tem de ser partilhada. Só que hoje não posso. Amanhã também não. Pode ser que a seguir dê. Mas aparece sempre que fazer... E adiamos.

Quando damos conta, o amigo já partiu, o doente melhorou sozinho, o triste já não precisa de consolo e a alegria deixou de o ser.
Tempo, para quê?

domingo, 24 de junho de 2007

Santos Populares

Época de festas na cidade. Toda a gente anda nas ruas, cumprimenta quem já não vê há muito e mesmo quem viu no dia anterior. Parece que toda a cidade tem uma só alma, presente em toda a gente. Todos se conhecem, todos são amigos, todos têm saudades uns dos outros.
Passeiam ao som da mesma música, compram nas mesmas barracas, comem nas mesmas tasquinhas. Até parece que durante o ano não fazem o mesmo, só que noutros locais...

E depois? O que acontece quando a música acaba e as luzes se apagam?

Voltam todos ao mesmo marasmo. À vida de todos os dias. Continuam a passar pelas mesmas pessoas, agora noutros sítios (sempre os mesmos), sempre à mesma hora... mas já não se cumprimentam, já não têm saudades, já não se lembram de quem não vêem há muito. Já não há tempo. Só trabalho. E a memória que fica da festa não é a do amigo que se encontrou, mas da feira, que estava tão bonita...

sábado, 23 de junho de 2007

Oblivion

Fim da tarde. É a minha hora favorita. No caminho para casa não consigo ir directa. Parece-me que aquele jardim (“dos namorados”, como ouço chamar-lhe) todos os dias me chama e para ele me dirijo sempre, sem resistir, como um sonâmbulo que segue um qualquer sonho que lhe invade a mente. E ao chegar, aquela luz generosa que se espalha pela paisagem de ouro enche-me de uma calma e de uma paz que dificilmente encontro noutro lado. É como se o tempo parasse… finalmente.

Quando acordo do torpor já é quase noite. O doloroso regresso à realidade…

Dos namorados… não consigo impedir um sorriso de escárnio ao lembrar-me do nome. Então porque me sabe tão bem a solidão naqueles bancos de pedra?

Regresso finalmente a casa. Mais sozinha. Mais eu. E um pensamento que me acompanha desde que ali cheguei: o anseio pelo esquecimento que a noite me traz. Esquecimento de mim presa à terra, liberdade para o espírito que vagueia embalado por aqueles braços de noite que me envolvem como se mais nada existisse neste mundo…

domingo, 10 de junho de 2007

O gato à janela

O meu gato passa a vida à janela. Encontrei-o já jovenzinho, abandonado, e desde então tem passado os dias em minha casa. À janela, basicamente.
Do seu poleiro vê o mundo que lhe passa diante dos olhos. Os vizinhos que andam por ali, os estranhos que passam, os estranhos que vão ficando e se tornam vizinhos. Com alguns de quem gosta ainda estende uma patita a ver se entendem com ele (o que, regra geral, consegue). Com os outros nem se digna a mexer um bigode, por mais momices que façam.
Observa. Só isso. Que estranhos lhe devemos parecer...
Ouve as conversas: as dos vizinhos, dos estranhos, dos outros que não são nem uma nem outra coisa. São elas que o mantêm informado daquilo que do seu poleiro não pode abarcar. Seja como for, todo o mundo lhe passa diante dos olhos.

O meu gato não sai de casa.
"Que crueldade!", é o que me dizem as pessoas.
Mas então porque é que quando lhe abro a porta para sair para o mundo lá fora, ele corre a esconder-se debaixo da cama do meu irmão? Que será que vê da sua janela?

sábado, 9 de junho de 2007

Ó Montemor dos arrozais e das cantigas...


Onde nasceu Fernão Mendes Pinto?
Jorge de Montemor, onde nasceu?
A mesma terra, o mesmo céu que eu pinto,
Castelo velho, o que foi deles é meu.

Dom Abade João vigia a tarde
Olhos longos sobre as ameias
Ao longe, búzios dão o alarme
"Moiro na costa", avisam as sereias!

Afonso Duarte

Terra de sonhos, de fadas, bruxas, sereias, arcas escondidas e moiras encantadas. Foi aqui que nasci, cresci à sombra deste castelo. Quantas esperanças, sonhos desfeitos e feitos concretizados não terá ele já visto? Quantos mais irá ver?

Quantas mouras não estarão ainda encantadas nas suas catacumbas, à espera que um qualquer cavaleiro no seu cavalo branco as venha libertar do seu cativeiro? Cá pra mim, também eu devo ter sangue mouro a correr-me nas veias...

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Música...


... que doce bálsamo para a alma. É através dos meus dedos sobre as teclas do piano ou percorrendo o ponto do violino que a alma me foge. Deixa de ser minha. Voa para onde nem eu ouso sonhar...
E então os sentimentos são mais intensos. Tanto, que chegam mesmo a doer de tão presentes se tornam. Arrepiam o corpo, fustigam o coração e transformam-se nas notas que saem das minhas mãos, traduzindo o que o meu íntimo não é capaz de dizer por palavras.
Mas no fim, pé ante pé, regressa o doce repouso da minha alma que volta, agora serena, pois foi onde o espaço físico não a deixa, onde o corpo não a pode aprisionar.