sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Insónia

Tenho sono, não durmo, sinto e não sei em que sentir.
Sou uma sensação sem pessoa correspondente,
Uma abstracção de autoconsciência sem de quê,
Salvo o necessário para sentir consciência,
Salvo — sei lá salvo o quê...
Álvaro de Campos

As horas passam. Lá fora tudo descansa de um dia passado, recupera forças para a manhã futura. Cá dentro o sono não chega... e a solidão, terrível, instala-se.
O corpo exausto desespera pela madrugada. Parece que já nem a alma tem forças para se mover. Ao menos ela poderia fugir para onde nada lhe chegasse, protegida por si própria do mundo, e almejar algum descanso.

Não consigo deixar de pensar na ironia da minha relação com o Tempo. Aquele ingrato! Foge-me, escapa-se-me por entre os dedos levando consigo a doçura dos momentos que quero perpetuar e recusa-se a seguir o seu caminho quando as horas me são dolorosas. Nem forças tenho para alcançar o relógio... até a noção dele próprio o ingrato já me nega...

Esperar... a única coisa que se pode fazer quando é a insónia a companheira de leito. Esperar pela madrugada, ou então que o corpo (não será antes a alma?) se renda à exaustão.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Por um breve momento...

... consegui que o tempo parasse.

O segredo? Nem eu sei como aconteceu.

Sei que eu não me pertencia, a esfera terrena desapareceu e o meu mundo passou a ser o céu negro da noite que me envolvia.


Ao abrir os olhos, por um momento, esse em que o tempo parou, ainda pude fitar o céu nocturno... até o ponteiro retomar de novo o seu doloroso caminho.


quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Regresso

Depois de um merecido período de férias, eis-me de regresso àquela que já posso chamar de "minha" cidade, a par com a minha doce Coimbra. A vista ao longe da cidade traz-me a recordação de um ano inteiro que passou. Memórias amargas, algumas, mas também muito doces outras. São estas últimas as que perduram e que me fazem sentir tão feliz por reencontrar tudo como deixei...

Tal como antes, no meu passeio pela cidade fui atraída pelo Jardim onde tantas e tantas vezes acabei as tardes. Pelo caminho, as caras familiares do encontro diário (mesmo sem saber o nome daqueles por quem passo), as ruas que me parecem saudar com um novo ar, e este vento saboroso de fim de Verão que anuncia o novo ano (lectivo, está bom de ver). Ao chegar, espera-me um poente de ouro que cobre o casario estendido aos pés de tão antigo templo. É o suficiente para me encher de uma alegria infinda pelo regresso, mas também de uma gratidão imensa e uma esperança renovada pela não-partida...

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Férias

Como qualquer tuga que se preze, rumei ao sul do país para descansar da lufa-lufa do dia-a-dia.

Eu, o resto do nosso país em peso (e que pesados que eram alguns) e metade dos reais súbditos de Sua Majestade, que facilmente passariam despercebidos num aquário de lagostas (e das recheadas, pelo menos a avaliar pelo conteúdo da carteira de alguns).

Praias super-lotadas, um trânsito horroroso, encontrões, faltas de paciência e um civismo praticamente inexistente vão sendo os pratos diários nas praias portuguesas. Isto já para não falar do péssimo serviço a que os (supostos) profissionais da restauração algarvia já nos vão habituando.

Apesar de tudo, nada que um leitor de mp3, um bom livro (ou dois ou três) e um mergulho beeeeeem longo não ajudem a esquecer. Quanto a mim, consegui alhear-me da turba agitada que me rodeou nestes dias e apesar de tudo descansei e aproveitei a companhia da família.

Gostava era de saber de que é que as outras pessoas tiram férias...

domingo, 5 de agosto de 2007

À noite

Queria voltar a dançar...
Uma daquelas danças em que a noite é o meu par. Em que me esqueço de mim e me deixo arrebatar por melodias insonoras, só adivinhadas pelos ouvidos da minha alma. Viajar para esferas onde o tempo não signifique mais que um lindo relógio pendurado na parede, cujos ponteiros permanecem imóveis, como eu ficarei nos braços daquele negrume de céu nocturno.
Então fujo (ou sou levada, não sei...) para longe deste mundo terreno, faço parte do firmamento e eu já não sou eu. Vagueio por entre as estrelas, danço pelo meio das nuvens, subo ao Olimpo e sou imortal até que...
... exausto, o meu ser regressa ao mundo mortal. Queda-se imóvel, descansado no seu leito de noite, com a certeza de que os ponteiros jamais voltarão a andar no cenáculo onde repousa.