sábado, 27 de outubro de 2007

Noite e dia


Noite de lua cheia.
Grande, branca, com o seu brilho a romper a escuridão da noite.
De madrugada, entra de mansinho pela minha janela e vem fazer-me companhia. É então que a pequena caixa junto à minha cama se abre, sonho e realidade confundem-se, e eu faço parte do luar...

Mas é curto o meu devaneio. A cruel luz do dia sobrepõe-se à magia da noite e arranca-me ao sonho que me envolve, deixando-me a ansiar de novo pelo regresso da madrugada.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Adriano


Há 25 anos morreu um dos nossos cantores da Liberdade.

Adriano não escreveu poemas, mas soube escolhê-los e cantar magistralmente, com toda a alma que aquela geração tinha e nos deixou por legado, e de certo modo ainda se respira nos sítios por onde passaram.
Não acredito que o seu espírito tenha morrido. Os seus ideais são cada vez mais pertinentes. A sociedade mudou, mas a ânsia de transformar é a mesma.

Ainda há Adrianos e Zecas por este mundo fora, que acreditam que o mundo pode mudar e lutam todos os dias para fazer a diferença.

A todos eles, aqui deixo a "Trova do Amor Lusíada"

Meu amor é marinheiro
Meu amor mora no mar
Meu amor disse que tinha
Na boca um gosto a saudade
E uns cabelos onde nascem
Os ventos e a liberdade

Meu amor é marinheiro
Meu amor mora no mar
Seus braços são como o vento
Ninguém os pode amarrar



segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Diálogos







Uma nota, uma só, suspensa com a maior das doçuras. É o oboé que começa, de mansinho, sustentado pelo pizzicatto das cordas, como gotinhas de chuva na janela.

Entra então o violino, no mesmo motivo, com a mesma doçura, abraçando-se as melodias como dois amantes no seu silêncio.

Os instrumentos seguem-se num diálogo sem palavras, feito apenas de arte, imortal, transcendente. Onde termina o oboé começa o violino, vão-se sucedendo um ao outro num diálogo perfeito e completam-se, num movimento ascendente e sublime que os conduz ao infinito.

A ternura do percurso, o intimismo do movimento, a intensidade da envolvência mútua que os subtrai a tudo quanto é terreno... Chronos perdeu o seu poder e o Olimpo aqui tão perto...

domingo, 14 de outubro de 2007

Halloween

E porque nos estamos a aproximar do Halloween, aqui ficam alguns trailers de um dos meus filmes favoritos.

Já alguma vez alguém pensou de onde vêm os feriados?


http://www.youtube.com/watch?v=Bz2Ho62dVr0

http://www.youtube.com/watch?v=sEK5w2MWB1Y

http://www.youtube.com/watch?v=sP5hVGA3WAg

http://www.youtube.com/watch?v=e9kCG7U5A

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Tesouros

Tenho uma caixinha onde guardo um bocadinho de noite. Roubei, sem que ninguém visse, um pedacinho de céu, cheio de estrelas e um bocadinho de luar.

Antes de dormir coloco essa caixinha junto à minha cama e abro-a com todo o cuidado para que faça parte dos meus sonhos.

Cerbero, guarda fiel, vela o meu sono até que Morfeu me venha buscar...

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Eros e Psyche

Canova, "Eros e Psyche"

Divinos e humanos, num abraço infindável que nem a eternidade poderá desenlaçar. Os ponteiros não seguem o seu caminho, o espaço não existe e o tempo não o é. Nada em volta tem significado, nada mais é real. Só os dois, abraçados, enlaçados, envolvidos um no outro numa união perfeita de corpo e alma. Fundem-se num só ser sobre-humano, sublime, incomeço e infinito, subtraídos ao mundo terreno pelos seus próprios braços, pelos seus corações uníssonos.

Eros perdido no olhar de Psyche, abandonada aos braços de Eros. Juntos são um só. Como num círculo uno e perfeito, ele tem origem nela, ela forma-se a partir dele. Impossível dizer qual é qual.

Um beijo, um olhar, a ternura de um abraço que não tem fim. A paz do silêncio, o tempo que não passa e os dois continuam um...

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Tempestade(s)


Enquanto a chuva cai lá fora eu aproveito o aconchego de casa.
Este tempo é propício à divagação e, sem eu querer, vejo-me a sair janela fora a palmilhar caminhos e montes e vales para bem longe.

Procuro nem eu sei bem o quê. Ou talvez saiba, mas não encontro...

Pelo caminho perco-me no meio de pensamentos que me assaltam inesperadamente, tropeço em sentimentos que há muito julgava perdidos e vagueio no meio de um turbilhão ainda maior que o das folhas que rodopiam incessantemente lá fora, fustigadas pelo vento de Outono.

Só a luz de um relâmpago que rasga o céu e o troar que o acompanham são capazes de me arrancar desta modorra. É bom estar de volta, enroscar-me numa almofada e esquecer o mundo lá fora (e cá de dentro também), dissolvendo-o com açúcar numa bela chávena de chocolate quente.