terça-feira, 26 de junho de 2007

Bedtime Story

Vagueio. Outra vez.
São estes breves minutos, antes de adormecer que me permitem ir onde a luz do dia não deixa. É a hora da saudade...

Uma vez, só uma, gostava de adormecer serena. Abrir os olhos de manhã, poder cumprimentar o dia com um beijo e ter a certeza de que a viagem do meu ser não foi só mais um sonho.
E a seguir, atar o sol com uma fitinha dourada à cabeceira da minha cama e deixar toda a gente no mundo descobrir que o relógio não desperta porque o tempo parou!

Prioridades. Outras.

O tempo é líquido. Escapa-se-nos por entre os dedos. Parece que quanto mais o tentamos parar, mais ele escorre, veloz e implacável, para onde já não é possível apanhá-lo.

Nunca há tempo, e por isso mesmo pensamos sempre no amigo que temos de rever, no doente para visitar, na tristeza que precisa de consolo ou na alegria que tem de ser partilhada. Só que hoje não posso. Amanhã também não. Pode ser que a seguir dê. Mas aparece sempre que fazer... E adiamos.

Quando damos conta, o amigo já partiu, o doente melhorou sozinho, o triste já não precisa de consolo e a alegria deixou de o ser.
Tempo, para quê?

domingo, 24 de junho de 2007

Santos Populares

Época de festas na cidade. Toda a gente anda nas ruas, cumprimenta quem já não vê há muito e mesmo quem viu no dia anterior. Parece que toda a cidade tem uma só alma, presente em toda a gente. Todos se conhecem, todos são amigos, todos têm saudades uns dos outros.
Passeiam ao som da mesma música, compram nas mesmas barracas, comem nas mesmas tasquinhas. Até parece que durante o ano não fazem o mesmo, só que noutros locais...

E depois? O que acontece quando a música acaba e as luzes se apagam?

Voltam todos ao mesmo marasmo. À vida de todos os dias. Continuam a passar pelas mesmas pessoas, agora noutros sítios (sempre os mesmos), sempre à mesma hora... mas já não se cumprimentam, já não têm saudades, já não se lembram de quem não vêem há muito. Já não há tempo. Só trabalho. E a memória que fica da festa não é a do amigo que se encontrou, mas da feira, que estava tão bonita...

sábado, 23 de junho de 2007

Oblivion

Fim da tarde. É a minha hora favorita. No caminho para casa não consigo ir directa. Parece-me que aquele jardim (“dos namorados”, como ouço chamar-lhe) todos os dias me chama e para ele me dirijo sempre, sem resistir, como um sonâmbulo que segue um qualquer sonho que lhe invade a mente. E ao chegar, aquela luz generosa que se espalha pela paisagem de ouro enche-me de uma calma e de uma paz que dificilmente encontro noutro lado. É como se o tempo parasse… finalmente.

Quando acordo do torpor já é quase noite. O doloroso regresso à realidade…

Dos namorados… não consigo impedir um sorriso de escárnio ao lembrar-me do nome. Então porque me sabe tão bem a solidão naqueles bancos de pedra?

Regresso finalmente a casa. Mais sozinha. Mais eu. E um pensamento que me acompanha desde que ali cheguei: o anseio pelo esquecimento que a noite me traz. Esquecimento de mim presa à terra, liberdade para o espírito que vagueia embalado por aqueles braços de noite que me envolvem como se mais nada existisse neste mundo…

domingo, 10 de junho de 2007

O gato à janela

O meu gato passa a vida à janela. Encontrei-o já jovenzinho, abandonado, e desde então tem passado os dias em minha casa. À janela, basicamente.
Do seu poleiro vê o mundo que lhe passa diante dos olhos. Os vizinhos que andam por ali, os estranhos que passam, os estranhos que vão ficando e se tornam vizinhos. Com alguns de quem gosta ainda estende uma patita a ver se entendem com ele (o que, regra geral, consegue). Com os outros nem se digna a mexer um bigode, por mais momices que façam.
Observa. Só isso. Que estranhos lhe devemos parecer...
Ouve as conversas: as dos vizinhos, dos estranhos, dos outros que não são nem uma nem outra coisa. São elas que o mantêm informado daquilo que do seu poleiro não pode abarcar. Seja como for, todo o mundo lhe passa diante dos olhos.

O meu gato não sai de casa.
"Que crueldade!", é o que me dizem as pessoas.
Mas então porque é que quando lhe abro a porta para sair para o mundo lá fora, ele corre a esconder-se debaixo da cama do meu irmão? Que será que vê da sua janela?

sábado, 9 de junho de 2007

Ó Montemor dos arrozais e das cantigas...


Onde nasceu Fernão Mendes Pinto?
Jorge de Montemor, onde nasceu?
A mesma terra, o mesmo céu que eu pinto,
Castelo velho, o que foi deles é meu.

Dom Abade João vigia a tarde
Olhos longos sobre as ameias
Ao longe, búzios dão o alarme
"Moiro na costa", avisam as sereias!

Afonso Duarte

Terra de sonhos, de fadas, bruxas, sereias, arcas escondidas e moiras encantadas. Foi aqui que nasci, cresci à sombra deste castelo. Quantas esperanças, sonhos desfeitos e feitos concretizados não terá ele já visto? Quantos mais irá ver?

Quantas mouras não estarão ainda encantadas nas suas catacumbas, à espera que um qualquer cavaleiro no seu cavalo branco as venha libertar do seu cativeiro? Cá pra mim, também eu devo ter sangue mouro a correr-me nas veias...

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Música...


... que doce bálsamo para a alma. É através dos meus dedos sobre as teclas do piano ou percorrendo o ponto do violino que a alma me foge. Deixa de ser minha. Voa para onde nem eu ouso sonhar...
E então os sentimentos são mais intensos. Tanto, que chegam mesmo a doer de tão presentes se tornam. Arrepiam o corpo, fustigam o coração e transformam-se nas notas que saem das minhas mãos, traduzindo o que o meu íntimo não é capaz de dizer por palavras.
Mas no fim, pé ante pé, regressa o doce repouso da minha alma que volta, agora serena, pois foi onde o espaço físico não a deixa, onde o corpo não a pode aprisionar.

terça-feira, 5 de junho de 2007

Tempus fugit...


O Tempo é mais ingrato que o Mar. Igualmente imenso, cheio de benesses, mas também caprichoso e egoísta. Arrasta-se quando os dias são penosos, foge quando nos são doces e felizes.

Arde, queima-nos a alma com a angústia do Tempo que não passa, com a ansiedade de um Tempo que morre prematuro...



Alqueva

Por mais que procure, o que nunca deixa de estar presente neste agora meu Alentejo, é aquele horizonte onde o olhar se estende e consome e a solidão sobe alta como a lua...

Alma minha, onde andas?

Prioridades

No jornal da noite de hoje, duas notícias. Uma sobre Maddie, a criança inglesa desaparecida há não sei quantos dias, outra sobre um ataque do exército libanês a um campo de refugiados.

A notícia sobre uma eventual escuta telefónica relacionada com o caso da menina foi abertura do jornal, com milhentas entrevistas que, desconfio, despertaram o interesse da nação.

Os refugiados no Líbano e em toda a parte continuam a morrer sem que o mundo se dê conta. Os corpos amontoados em território que deveria ser seguro por normas internacionais não são concorrência para a doce carinha da pequena Maddie!


segunda-feira, 4 de junho de 2007

Google

O Google é fabuloso. A minha página inicial personalizada tem um esquilo muito catita que vai mudando as suas actividades conforme a hora do dia.

Vende-se a vida em pacotes, bonita e a cores.Vemo-la todos os dias nos ecrãs dos computadores e da tv. Esquecemo-nos é de a viver.