terça-feira, 27 de novembro de 2007

Sonho?

Sonhei que o meu sonho era real. Que se materializara e me viera fazer companhia antes de dormir. Embalou-me e levou-me pela mão até ao lugar onde os sonhos são feitos... De lá podia ver o meu corpo aninhado no conforto das mantas e o sorriso que denunciava o estado de graça em que o meu íntimo se encontrava.

Foi curto o meu idílio, mas por tão grande que era também a crueldade do acordar foi enorme...

O sonho voltou para esse lugar longínquo e a realidade transformou-se então na dolorosa consciência do acordar, amenizada apenas pela esperança de voltar a dormir e, quem sabe, sonhar de novo...


domingo, 25 de novembro de 2007

...como un doble tambor


De noche, amada, amarra tu corazón al mío

y que ellos en el sueño derroten las tinieblas

como un doble tambor combatiendo en el bosque

contra el espeso muro de las hojas mojadas.


Pablo Neruda

Não quero derrotar as trevas da noite. Queria vergá-las à minha vontade, manter as horas como minhas aliadas, fazendo correr (ou parar) os ponteiros do relógio de acordo com os meus caprichos...
Manter o meu coração amarrado de tal forma que não fosse preciso derrotar as trevas, pois nem o dia seria capaz de desfazer o enlace que durante a noite se fez...

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Bird child

Às vezes sinto-me um bocadinho como ela...


quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Lorca


La aurora
nos unió sobre la cama,
las bocas puestas sobre el chorro helado
de una sangre sin fin que se derrama.

Y el sol

entró por el balcón cerrado

y el coral de la vida abrió su rama

sobre mi corazón amortajado.



Garcia Lorca "Noche de amor insomne"

sábado, 17 de novembro de 2007

Quem é o "louco"?

Ontem ao fim da tarde ao passear pela cidade não pude deixar de reparar na azáfama das pessoas que passavam. Por cima das nossas cabeças equipas de homens penduravam os esqueletos que se iluminarão com mil luzes brilhantes e coloridas assim que começar oficialmente a época natalícia. Os transeúntes conversavam entre si sobre a prenda para este ou para aquele, sobre os preços que estão pela hora da morte, todos carregados com sacos e com caras pesadas de quem está com pressa e tem muito para fazer. Outros passeiam o cartucho das castanhas, olhando as montras preocupados com o que terão ainda para comprar.

Olho para as pessoas e poucas são as caras estranhas. Évora é uma cidade pequena, onde nos cruzamos todos os dias às mesmas horas com as mesmas pessoas nas suas mesmas rotinas. Contudo, todos passam por todos e ninguém olha para ninguém, preocupados apenas com o Natal que se aproxima, indiferentes a quem está, a quem passa, até mesmo à beleza desta praça centenária.

Enquanto estava eu também perdida nos meus pensamentos a observar aquele formigueiro vejo chegar alguém a quem a cidade lestamente colocou um rótulo de "louco". Tantas e tantas vezes já nos cruzámos nas nossas rotinas diárias ou simplesmente em tardes de passeio...
Também ele vinha ensimesmado, falando consigo próprio e a discutir uma qualquer ideia com o seu pensamento. No entanto, foi ele o único ser com alma humana naquele local. Levantando a cabeça, abriu o sorriso e com a única voz gentil que se fez ouvir naquela praça saudou-me com simpatia: "Boa tarde..."



sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Advento

Nesta altura em que um pouco por todo o lado se prepara o Natal com mil luzes, presentes, compras e correrias, não consigo deixar de me recordar do Kyrie, de Ary dos Santos:

Em nome dos que choram,
Dos que sofrem,
Dos que acendem na noite o facho da revolta
E que de noite morrem,
Com esperança nos olhos e arames em volta.
Em nome dos que sonham com palavras
De amor e paz que nunca foram ditas,
Em nome dos que rezam em silêncio
E falam em silêncio
E estendem em silêncio as duas mãos aflitas.
Em nome dos que pedem em segredo
A esmola que os humilha e os destrói
E devoram as lágrimas e o medo
Quando a fome lhes dói.
Em nome dos que dormem ao relento
Numa cama de chuva com lençóis de vento
O sono da miséria, terrível e profundo.
Em nome dos teus filhos que esqueceste,
Filho de Deus que nunca mais nasceste,
Volta outra vez ao mundo!

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Noite


Lá fora brilham as estrelas. O céu limpo tem por certo um luar que as portadas da minha janela não deixam entrar.

Só posso imaginar a luz que dele emana, a beleza que a noite terá, negra de veludo, pespontada pelas estrelas, minúsculas, tão distantes mas tão próximas...

Cá dentro nem o calor das chamas que bruxuleiam na escuridão nem o conforto do meu leito chegam para me embalar. E é enquanto o sono não vem que aqui fico, a sonhar sem dormir, a ver com os olhos da alma aquilo que o meu olhar não pode alcançar.

domingo, 11 de novembro de 2007

Pedro e o Lobo

Para quem gosta de música e mais que isso adora uma boa história à lareira, aqui fica um pequeno mimo em três actos. Enjoy.







quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Muito mais que o sol

Palavras para quê?

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Quietude


Depois de o Tempo voar, o silêncio.
Este ingrato teima em fugir e negar-me um pouco mais do pouco tempo que me concede. Às vezes pára: um segundo apenas que vale por uma eternidade! Mas ai de mim, antes que dê conta já voou, roubando-me e levando cruelmente para longe esse pequeno fragmento mágico de si próprio...

Então resta-me apenas a quietude da minha alma inquieta que, apesar do silêncio que enche o ar misturado com aromas de incenso, não consegue repousar desta sua eterna viagem. Quanto a mim só posso ficar, quieta, mas a desejar o momento que parou, o tempo que fugiu, num grito mudo de quem chama por algo de si que lhe foi subitamente arrancado.

sábado, 3 de novembro de 2007

Palavras


Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.

É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és nao vem à flor
Das caras e dos dias.

Tu és melhor -- muito melhor!
Do que tu. Não digas nada. Sê
Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.

Mário Cesariny

Que fazer quando as palavras não servem?
Quantas vezes as palavras nos assomam à boca e se quedam lá, mudas, incapazes de traduzir o que nos vai na alma?

Como dizer o indizível?



Snobs

Ao vaguear pelo youtube, tropecei neste pequeno tesouro que me faz sempre sorrir. Lembra-me alguns narizes empinados que conheci na minha vida. Por este mundo fora encontramos muitas vezes alguns elementos dessa elite dos "sangue-azul", sem brasão nem dinheiro, mas com a mania de que são alguém. O pior é o desprezo manifesto com que tratam quem opta por um estilo de vida diferente.

Para todas essas pessoas "importantes", aqui fica este pequeno vídeo.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Pré-histórias


Uma tarde dourada de Outono é sempre repleta de Magia!
Campos imensos espalham-se num horizonte por descobrir e a força criadora da Terra invade-me os sentidos, sem que nada possa fazer para lhe resistir. Demónios e diabretes parecem espreitar a cada canto, detrás de majestosos menires, no meio de círculos mágicos de pedras ou simplesmente atrás dos ramos de uma árvore.
Nem eu sei que arrebatamento é este.
Só pode ser sonho com certeza... ou feitiço.