sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Insónia

Tenho sono, não durmo, sinto e não sei em que sentir.
Sou uma sensação sem pessoa correspondente,
Uma abstracção de autoconsciência sem de quê,
Salvo o necessário para sentir consciência,
Salvo — sei lá salvo o quê...
Álvaro de Campos

As horas passam. Lá fora tudo descansa de um dia passado, recupera forças para a manhã futura. Cá dentro o sono não chega... e a solidão, terrível, instala-se.
O corpo exausto desespera pela madrugada. Parece que já nem a alma tem forças para se mover. Ao menos ela poderia fugir para onde nada lhe chegasse, protegida por si própria do mundo, e almejar algum descanso.

Não consigo deixar de pensar na ironia da minha relação com o Tempo. Aquele ingrato! Foge-me, escapa-se-me por entre os dedos levando consigo a doçura dos momentos que quero perpetuar e recusa-se a seguir o seu caminho quando as horas me são dolorosas. Nem forças tenho para alcançar o relógio... até a noção dele próprio o ingrato já me nega...

Esperar... a única coisa que se pode fazer quando é a insónia a companheira de leito. Esperar pela madrugada, ou então que o corpo (não será antes a alma?) se renda à exaustão.

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