sábado, 17 de novembro de 2007

Quem é o "louco"?

Ontem ao fim da tarde ao passear pela cidade não pude deixar de reparar na azáfama das pessoas que passavam. Por cima das nossas cabeças equipas de homens penduravam os esqueletos que se iluminarão com mil luzes brilhantes e coloridas assim que começar oficialmente a época natalícia. Os transeúntes conversavam entre si sobre a prenda para este ou para aquele, sobre os preços que estão pela hora da morte, todos carregados com sacos e com caras pesadas de quem está com pressa e tem muito para fazer. Outros passeiam o cartucho das castanhas, olhando as montras preocupados com o que terão ainda para comprar.

Olho para as pessoas e poucas são as caras estranhas. Évora é uma cidade pequena, onde nos cruzamos todos os dias às mesmas horas com as mesmas pessoas nas suas mesmas rotinas. Contudo, todos passam por todos e ninguém olha para ninguém, preocupados apenas com o Natal que se aproxima, indiferentes a quem está, a quem passa, até mesmo à beleza desta praça centenária.

Enquanto estava eu também perdida nos meus pensamentos a observar aquele formigueiro vejo chegar alguém a quem a cidade lestamente colocou um rótulo de "louco". Tantas e tantas vezes já nos cruzámos nas nossas rotinas diárias ou simplesmente em tardes de passeio...
Também ele vinha ensimesmado, falando consigo próprio e a discutir uma qualquer ideia com o seu pensamento. No entanto, foi ele o único ser com alma humana naquele local. Levantando a cabeça, abriu o sorriso e com a única voz gentil que se fez ouvir naquela praça saudou-me com simpatia: "Boa tarde..."



Sem comentários: