sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Devaneios

Com o fim da tarde veio o vento frio que prenuncia a chegada da nova estação. Só a noite me trouxe algum calor.

Foi por ela que no meu íntimo esperei todo o dia, na ânsia de me poder abandonar ao seu manto quente de veludo negro. Ao chegar, é como se em mim o frio da tarde tivesse desaparecido por completo e a luz do luar que enche o céu também transbordasse dentro do meu quarto, iluminando mesmo os seus mais escuros recônditos. Somos um só ser, eu e a noite, unidas como prolongamento de uma só coisa, sem princípio nem fim, irmanadas numa dança interminável, ao som de uma música que só pode ser sentida mas não escutada.

Gostava de saber como me vê ela a mim quando chega, se sonhará sequer o quanto é desejada quando vem e a angústia que me domina quando vai... O meu inimigo é o tempo, que insiste em trazer a aurora, a luz cruel do novo dia que me leva este céu nocturno e me deixa abandonada a mim própria e à solidão de ver partir com a noite um pedaço de mim.

Um dia, como Faetonte, serei capaz de roubar o carro de Helios, travar a passagem do tempo e ver fugir assustadas as horas, deixando-me ficar protegida pelo negrume deste abraço eterno e infindável, que permanece mesmo para além do espaço e do tempo.


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